Era
uma vez um macaco mariola, que andava de bata e sacola, como se fosse para a
escola. Mas não ia. Era tudo a fingir.Os rapazes, quando o viam passar,
troçavam dele e gritavam:
–
Macaco escondido com o rabo de fora… Macaco escondido com o rabo de fora…
Pois
era. Realmente o rabo sobrava de bata e, muito comprido e retorcido, corria
atrás do macaco para onde quer que e fosse.
Então
o macaco entrou numa barbearia e pediu ao barbeiro que lhe cortasse o rabo. O
barbeiro afiou a navalha e zaz! – rabo para um lado, macaco para o outro.
A
operação deve ter doído, mas o macaco, que tinha tanto de vaidoso como de
corajoso, não se importou. E de sacola e bata, muito empertigado, veio para a
rua mostrar-se nos seus novos preparados.
Estavam
uns homens à conversa, numa esquina. Quando o viram passar, um deles comentou:
–
Macaco sem rabo é como um burro sem orelhas. Fica mais feio e fica mais
minguado. Coitado!
O
macaco ouviu-o, sentiu-se e correu ao barbeiro para lhe desenvolvesse o rabo.
Talvez ainda pudesse ser cosido ou colado…
–
Olha o macaco toleirão à procura do rabo. Que queria que eu lhe fizesse?
Deitei-o fora e a camioneta do lixo levou-o – disse-lhe o barbeiro.
Aí
o macaco zangou-se. E quando uma pessoa ou um macaco se zanga e perde a cabeça,
faz disparates. Sem mais nem menos, agarrou numa das navalhas do barbeiro e
disse:
–
Nesse caso, levo-lhe a navalha com que me cortou o rabo. – E abalou.
Ia
ele por uma rua, quando passou perto de uma peixeira.
–
Que linda navalha traz o menino na mão- disse a peixeira.- Ó meu carinha de
anjo não me quer dar a navalhita, para eu amanhar o meu peixe?
O
macaco ficou todo derretido com as falas da peixeira e, já se vê, deu-lhe a
navalha.
De mãos a abanar é que sabe bem passear…
Mas,
passado tempo, veio-lhe a vontade de chamar outra vez sua á navalha e voltou
atrás, à procura da peixeira.
–
Olha o macaco paspalhão a perguntar pela navalha… Fique sabendo que não
prestava para nada. Mal lhe peguei, para amanhar umas sardinhas, partiu-se –
disse-lhe a peixeira.
Aí
o macaco zangou-se. Zangou-se e fez outro disparate. Pegou numa canastra de
sardinhas e abalou, dizendo:
–
Nesse caso, levo-lhe as sardinhas com que me estragou a navalha.
Estava um
padeiro à porta da padaria, quando o macaco passou com a canastra de sardinhas
à cabeça.
–
Psst, ó cavalheiro – chamou o homem, encostado á porta da padaria. – Um senhor
tão distinto com sardinhas à cabeça não parece bem. Deixe-as cá ficar comigo,
que tenho onde as guardar.
O
macaco ficou sensibilizado com estas falas do padeiro, e, já se vê, deu-lhe as
sardinhas.
Pois é. De mãos a abanar é que sabe bem passear…
Mas,
passado um tempo, veio-lhe a vontade de chamar outra vez suas às sardinhas e
voltou atrás, à procura do padeiro.
–
Olha o macaco trapalhão a perguntar pelas sardinhas… Comias em cima do pão e
estavam bem gostosas, fique sabendo- disse-lhe o padeiro.
Aí
o macaco zangou-se. Zangou-se e fez outro disparate. Pegou num saco de farinha
e atirou-o para os ombros, dizendo:
–
Nesse caso, levo-lhe um saco de farinha com que fabrica o pão para comer as
sardinhas. – E fugiu.
Estava
uma senhora professora à janela da escola, a ver quem passava, enquanto as
alunas brincavam no recreio. Passou o macaco com o saco às costas.
–
Como ele vai carregado, o pobrezinho – disse a professora.
O
macaco ficou comovido com estas falas da professora e, já se vê, deu-lhe o saco
de farinha.
Pois
é. De mãos a abanar é que sabe bem passear… Mas, passado tempo, veio-lhe a
vontade de chamar outra vez seu ao saco de farinha e voltou atrás, à procura da
professora.
–
Olha o malcriadão do macaco a exigir o que ainda há bocado nos deu, sem que
ninguém lhe pedisse. Da farinha amassámos bolos e as minhas meninas comeram-nos
todos – disse a senhora professora.
Aí
o macaco zangou-se. Zangou-se e fez outro disparate. Agarrou numa menina e
fugiu com ela, dizendo:
–
Nesse caso, levo-lhe uma menina que comeu os bolos da minha farinha.
Mas
a menina, ao colo do macaco, não parava de chorar.
–
Quero a minha mãe. Quero a minha mãe, dizia a menina.
O
macaco condoeu-se e, já se vê, levou-a a casa da mãe, que lhe agradeceu muito o
encargo. Até a menina, depois de se assoar e limpar os olhos, lhe fez uma
festinha de amizade.
Pois
é. De mãos a abanar é que sabe bem passear…
Mas,
passado tempo, começou a sentir saudades da menina e voltou atrás, a saber
dela.
–
Querem lá ver o maganão do macaco que não para de rondar-me a casa- disse-lhe a
mãe da menina. – A minha filha está a ajudar-me a lavar a roupa, que eu estou a
estender, e se ainda quer saber mais vou chamar o meu marido, que anda na horta,
e já lhe trata da saúde.
Aí
o macaco zangou-se. Zangou-se e fez outro disparate. Agarrou numa camisa que
estava estendida e abalou com ela, dizendo:
–
Nesse caso, levo-lhe uma camisa fina lavada pela menina.
Estava
um velho violeiro a trabalhar à porta da oficina, quando o macaco por ele
passou, a correr.
–
Senhor camiseiro, ó senhor camiseiro, deixe-me ver a sua mercadoria – disse-lhe
o violeiro.
O
macaco passou e aproximou-se do velhote, que vestia uma camisa muito estafada e
cosipada.
–
Parece de bom pano – disse o violeiro. – Só tenho pena que a minha bolsa não
chegue a semelhante luxo. Afinal uma vida de trabalho não dá direito a camisa
fina.
O
macaco ficou impressionado com as falas do velhote e, já se vê, deu-lhe a
camisa.
Pois é. De mãos a abanar é que sabe bem passear…
Mas,
passado tempo, e como de costume, arrependeu-se e voltou atrás, á procura do
violeiro.
–
Olha o aldrabão do macaco que não me deixa em paz. A camisa não valia nem o
trabalho de vesti-la. Era tão fina, que se rasgou toda, quando a pus. E se
continua aí especado ainda lhe atiro com esta viola à cabeça – gritou-lhe o
violeiro.
O
macaco, isto ouvindo, arrancou a viola das mãos do velho e disse:
–
Nesse caso, antes que a estrague na minha cabeça, levo-a eu inteira, que melhor
me serve inteira do que partida.
E
fugiu com a viola ao ombro.
–
Agarra que é ladrão! – gritou o violeiro, correndo atrás dele.
O
macaco trepou a uma árvore, saltou para uma varanda, subiu a um telhado e lá de
cima espreitou cá para baixo.
Estava
um grande ajuntamento na rua. Era o violeiro, o pai e a mãe da menina, a
professora, o padeiro, a peixeira, o barbeiro e muita rapaziada. Todos
apontavam para ele, cantando e troçando:
–
Olha o macaco mariola
que de rabo fez navalha
da navalha fez sardinha
da
sardinha fez farinha
da farinha fez menina
da menina fez camisa
da camisa fez
viola
e agora deu à sola
e agora deu á sola.
O
macaco no telhado repimpado pegou na viola e respondeu-lhes:
–
Pois se agora dei à sola
Pois se agora vos fugi
É que a mim ninguém me enrola
E
de mim ninguém se ri.
Timglintim, tinglintim.
Timglintim, timglintim.
Cá
em baixo, continuava a surriada. Riam-se e cantavam para ele:
–
Olha o macaco mariola,
estarola e gabarola
com pancada na cachola,
dá e tira,
mata e esfola,
ora parte, ora cola,
ora mete para a sacola…
Dá a esmola, tira a
esmola,
mariola, mariola
quem te meta na gaiola,
quem te meta na gaiola.
Mas
o macaco no telhado respondia ao desafio:
–
Não me metem na gaiola
que de mim ninguém se ri.
A tocar nesta
viola,
tinglintim, tinglintim,
a dançar com castanholas
vou daqui para
Madrid.
Sou macaco mariola
e rei do charivari,
porque a mim ninguém me enrola
e
a tocar nesta viola
tinglintim, tinglintim
não tenham pena de mim.
Tinglintim,
tinglintim
não tenham pena de mim,
tinglintim, tinglintim
não tenham pena de
mim…
Foi-se embora o macaco…
Conto
tradicional português de António Torrado
Os alunos da turma de CM1 da escola Normandie-Niémen e da escola Jean Moulin de Montesson ouviram a leitura do conto. Em seguida, contaram e recontaram a história, com a ajuda das imagens do livro.Completaram o seu estudo com a resolução de uma ficha de leitura. Depois, realizaram alguns desenhos relacionados com o assunto.
Aqui estão alguns exemplares.